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Guerra na Ucrânia

Satélite para o exército comprado por subscrição pública: “Todos os ucranianos queriam fazer parte desta história”

Anna Gvozdiar é diretora da Fundação Serhyi Prytula, uma organização de caridade ucraniana
Anna Gvozdiar é diretora da Fundação Serhyi Prytula, uma organização de caridade ucraniana
André Luís Alves

Anna Gvozdiar dirige a fundação que angariou fundos para comprar drones para as forças armadas da Ucrânia. Como estes acabaram por lhe ser oferecidos pelo fabricante, o dinheiro acabou por servir para comprar um satélite. E o trabalho está longe de estar concluído, diz em entrevista ao Expresso

A fundação Serhyi Prytula, organização de caridade ucraniana, comprou um satélite para os serviços de informações militares do país, usando 15 milhões de euros que angariou em donativos. O valor foi alcançado em três dias e era para comprar quatro drones de fabrico turco, Bayraktar TB2, fulcrais na destruição de grandes colunas de blindados russos no início de grande invasão. No último ano os ucranianos já ofereceram às suas forças armadas o equivalente a mais de 360 milhões de euros.

Acontece que a empresa turca decidiu oferecer três drones. O Ministério da Defesa ucraniano pediu, então, para comprar um satélite com o dinheiro que não fora gasto. Menos de quinze dias depois de este entrar em funcionamento, deu-se o ataque à ponte da Crimeia. O Expresso foi falar com a diretora da fundação, Anna Gvozdiar, que coordenou este projeto.

O projeto da compra do satélite foi pioneiro. Como se passou tudo?
É uma história única para a Ucrânia e para o mundo. Habituámos o mundo a feitos incríveis nos últimos nove anos, mas este, para mim, é maior de todos os esforços civis. Como sabemos, a fundação angariou dinheiro de muitas pessoas para comprar drones Bayraktar. Crianças venderam coisas na rua, reformados vieram trazer-nos dinheiro pessoalmente. Todos na Ucrânia queriam fazer parte desta história, para que percebessem o que somos. Imaginem que temos um inimigo que é como um dragão gigante, e nós somos um pequeno hobbit a lutar contra este grande demónio. Alguns doaram 1 hryvnia [€0,02], outros algumas moedas. Tentaram contar quantos estaríamos unidos. Juntámos o dinheiro necessário para comprar quatro Bayraktar TB2 em três dias. A empresa, na Turquia, descobriu como o dinheiro fora angariado e decidiu não aceitá-lo. Não queriam dinheiro de crianças que andavam a vender cerejas na rua. Disseram para usarmos o dinheiro como quiséssemos, e ofereceram-nos três Bayraktar. De repente a fundação tinha todo este dinheiro. Tínhamos outro desafio pela frente. Encetámos negociações com o Ministério da Defesa ucraniano, com quem estamos sempre em coordenação. Ajudamos as Forças Armadas [ZSU] mas não fazemos o trabalho deles, por isso perguntámos que fazer. Eles vieram com a ideia de comprar um satélite, porque a agência de espionagem precisava de dados para um trabalho mais produtivo das ZSU.

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